quinta-feira, maio 15, 2008

Os jovens e a política

Os jovens e a política têm, nos dias de hoje, uma das mais difíceis relações. Apesar de se reconhecer que o futuro da democracia (portuguesa, neste caso) assenta na capacidade de transmitir às gerações mais novas o respeito pela entrega dos seus pais e avós a esse ideal e a necessidade do esforço individual para a sua manutenção, é também obrigatório admitir que, à medida que as gerações pós-25 de Abril se sucedem, o desprezo pela política se instala, a imagem do político se torna cada vez mais negativa e a própria participação política, a qualquer nível, se torna alvo de chacota. Com tal cenário, o apelo à participação dos jovens na política passa, muitas vezes ignorado. Dada a quantidade de actividades e distracções, os jovens tendem a esquecer os assuntos que os ocupariam, tradicionalmente, à medida que a sua consciência cívica evoluísse. E mesmo aqueles que sentem o apelo da política, dada a facilidade de contacto que caracteriza a sociedade actual, são facilmente tentados por ideias mais extremistas, cujos valores, pela sua própria natureza, se tornam mais facilmente identificáveis que os dos partidos políticos mais comuns, assumindo-se como solução perfeita, apresentando-se como caminho a seguir para se resgatar a sociedade do mal em que está mergulhada, aproveitando-se das (ainda) nebulosas noções que os jovens têm sobre o (mau) funcionamento da política e das suas instituições, na esmagadora maioria dos casos sem conhecimento de causa.
O apelo à participação juvenil na política é uma batalha difícil, na medida em que o esforço deverá ser geral, da comissão política concelhia à Assembleia da República, da direita à esquerda, de forma a devolver a transparência e a confiança ao sistema democrático. O próprio sistema de educação tem um papel vital neste objectivo, na medida em que, sendo o instrumento mais próximo das crianças e dos jovens e um dos elementos que mais responsabilidades detêm na sua formação constitui o meio certo para fazer os jovens despertar para as responsabilidades cívicas e para a vida política. No entanto, o despertar que se lhes impõe não poderia nunca ser indicativo do caminho a seguir, sob pena de perder todo o sentido educativo e expor gerações a um ideal dominante, minando assim a própria democracia.
Torna-se evidente que a transmissão aos jovens dos valores cívicos e democráticos será uma das principais bandeiras da política num futuro próximo, sob pena de tornar os alicerces da democracia demasiado fracos para as responsabilidades que se lhe impõem.

8 comentários:

Filipe de Arede Nunes disse...

O nosso companheiro Filipe Farinha deu inicio à sua colaboração no nosso blog com um texto de grande qualidade sobre um assunto muito actual.
A reflexão que faz sobre a relação entre os jovens e a política está bem estruturada e reflecte um pensamento organizado e que deveria ser mote para uma discussão séria sobre um tema que afecta a realidade social do nosso país.
O que será que podemos esperar do futuro quando não existe qualquer simbiose entre a politica e os politicos e a nossa juventude? Qual será o caminho que estamos a trilhar?
São pensamentos que ficam, pode ser que alguém tenha alguma resposta a oferecer.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

Daniel Geraldes disse...

Benvindo Filipe, que belo problematica desenhaste tu, agora aqui vai:

- Sinceramente não consigo compreender este desinteresse dos jovens em geral pelo política, eu que normalmente tenho a mania de tentar evangilizar a malta amiga que não ligue nada a politica, sobre os grandes temas do país, temas locais, regionais ou até internacionais, acho que nesta sociedade que hoje temos, a grande maioria das pessoas tem o pessimo habito de olhar apenas para o seu mundo pequeno e muitas vezes não olha para a politica como uma forma de influenciar o seu todo para conformar o maior numero de vontades.
Acho tambem e por alguma experiência que tenho e daquilo que tenho visto, isto de fazer política tem a seguinte perversão, perversão essa que torna mais politicos e menos humanistas, ou por outras palavras, a política tem a capacidade de nos fazer compreender melhor os problemas das pessoas, mas perversamente afasta-nos da população em geral, o que não deixa de ser curioso.

Quantos aos jovens, escalão etário no qual me incluo, acho que a nossa geração não esta só afastada da política, como tambem está afastada da religião, da sociedade e dos seus problemas, em suma , da atitude de tentar ajudar os outros,

cumprimentos,

Anónimo disse...

Antes de responder ao Daniel Geraldes gostaria de agradecer o vosso apoio. Espero que a minha participação se torne, finalmente, uma constante.
Caro Daniel:
Baseado no contacto que, naturalmente, tenho com as pessoas da nossa faixa etária, verifico que, apesar de não se interessarem por uma participação política, não estão em nada alheados dos problemas e questões que caracterizam a actualidade. Aliás, a qualidade das suas opiniões e a sua fundamentação é muitas vezes surpreendente.
Este facto apenas torna mais difícil de compreender a situação de alheamento dos mesmos relativamente à política e, muitas vezes, até relativamente às responsabilidades cívicas. Acredito que o problema se situe na desilusão que se instalou na sociedade portuguesa em relação à própria democracia(que resulta nas já comuns referências ao antigo regime e a algumas das suas personalidades). Tal desilusão estará relacionada com uma série de factores, como o desmoronar de uma série de ilusões que poderão ter sido criadas durante o período do referido regime, e transmitidas às gerações mais novas, entre outros.Suponho.

Paulo Edson Cunha disse...

Omesus parabéns pela excelente reflexão aqui trazida.

Pina Martins disse...

Bem vindo amigo.

Que seja o primeiro de muitos.

Um abraço

JS Seixal disse...

É mais que coincidência surgir na JSD e JS um texto com a mesma preocupação e mesmo título. E não quero com isto dizer que é falta de criatividade. Muito pelo contrário, significa que existem muitos jovens que não se revêm no estudo da Universidade Católica e que lutam diariamente por uma juventude mais dinâmica e civicamente mais activa. Em http://js-seixal.blogspot.com podem ler o texto referido.

Com os melhores cumprimentos, continuemos essa luta!

Carla disse...

Antes de mais, parabéns ao Sr Filipe Farinha pelo excelente texto com o qual concordo plenamente.

Quando visitei o vosso blog pela primeira vez achei pertinente o facto de pertencer a uma juventude e de estar, realmente, preocupada com os problemas que o nosso país atravessa.

Concordo quando dizem que os jovens não se interessam pela política, que estão desiludidos com a sociedade e que não se preocupam com os problemas de Portugal e do mundo. A nível político não sou um bom exemplo, sou jovem mas não percebo quase nada de política... juro que já fiz alguns esforços para perceber mas é uma área pela qual não nutro qualquer fascínio. Apenas gostava de ter perceber certos e determinados assuntos para que possa participar e ter opinião formada sobre as temáticas debatidas. No entanto, tudo aquilo que sei (referente a outras áreas) tento transmitir para que isso possa contribuir, de alguma forma, na formação das pessoas que me rodeiam.

Continuem com os bons posts!

Bom fim de semana,
Carla

Anónimo disse...

Em resposta ao comentário por parte de JS, tenho de fazer notar que esta situação foi, de facto, uma enorme coincidência, pois, para além de já ter este texto pronto há cerca de 2 meses,tendo a falta de tempo a nível pessoal impedido a sua apresentação num momento anterior), admito também não me ter informado em relação ao estudo da Universidade Católica (como pode ler, não o menciono em nenhuma parte do texto. No entanto, fico bastante agradado com o facto das duas organizações políticas juvenis terem este problema como uma das suas preocupações imediatas. Como afirmo no texto, esta deve uma luta conjunta, pois é um tema que nos toca particularmente.

blogaqui?