quinta-feira, junho 26, 2008

Construção Europeia


Dado que o tema vem sendo discutido no blog há algum tempo, e em género de resposta alargada ao post do Daniel Geraldes, venho também eu contribuir com a minha opinião para o assunto.

Neste momento, em que a União Europeia olha para si mesma, à procura do que correu mal e que terá provocado o “Não” irlandês ao Tratado de Lisboa e procura uma solução (minimamente) viável para a situação criada, será positivo olhar para o problema de uma perspectiva mais afastada e global.


Com a rejeição, por parte da sociedade Holandesa e Francesa, da Constituição Europeia, criou-se no seio da União Europeia um dos problemas mais graves que esta enfrentou na sua história: As opiniões públicas de dois dos países mais antigos no seio da mesma rejeitavam um crescimento da integração europeia. A partir desse momento criou-se, a meu ver, o verdadeiro problema que hoje assola a União: O afastamento da liderança europeia relativamente às sociedades nacionais. Tal questão criou-se exactamente da sua oposta: O afastamento nasceu do desejo de aproximação.


Com a criação do Tratado de Lisboa veio também o desejo da sua aprovação por parte dos parlamentos nacionais, modo que oferecia uma maior segurança às lideranças europeias. Na minha opinião, tal decisão justificava-se plenamente, dado o carácter mais “administrativo” do Tratado em questão, relativamente à Constituição. Criou-se, no entanto, uma aproximação entre os dois documentos, aproximação essa que provocou nas sociedades uma ideia de que estariam a ser ignoradas no processo de construção europeia.


A construção europeia, enquanto processo de transferência de responsabilidades e direitos entre os Estados e a União nunca poderá avançar sem o consentimento das respectivas sociedades, sob pena destas entenderem o processo não como início de um novo capítulo da história europeia mas sim como um ataque ao Estado em questão, abrindo ainda mais o caminho a argumentos nacionalistas, com consequências imprevisíveis mas evidentemente negativas.


A meu ver, a construção europeia será consolidada ( e concluída) devido, principalmente, a uma pressão exterior. Existem vários exemplos disso na História Mundial, como o caso da criação dos Estados Unidos da América e da unificação da Alemanha. E tal pressão externa será, provavelmente, a diminuição da importância relativa da economia europeia a nível mundial. Enquanto o PIB europeu representa hoje aproximadamente 31% do PIB mundial(Dados do IMF), esta percentagem verifica uma tendência negativa, prevendo-se que, em 2050, nenhum país europeu pertença ao grupo das 6 maiores economias mundiais (G6)(Dados da Goldman Sachs). Após séculos de domínio a nível económico, tecnológico, cultural e militar, a Europa enfrenta um futuro negro. A sua posição mundial depende do sucesso da integração europeia, sob pena de se ver renegada do primeiro plano político e representar, apenas, um agrupamento de Estados de segunda linha.

6 comentários:

Filipe de Arede Nunes disse...

Existem aqui diversos pontos que merecem resposta atenta:

Em primeiro lugar, o afastamento das lideranças europeias dos cidadãos no que concerne ao projecto europeu reside, a meu ver, essencialmente no facto de os principais responsáveis serem cada vez mais medíocres.

Em segundo lugar, não entendo (porque falta justificação para a afirmação), porque motivo as motivações nacionalistas serão negativas para a construção europeia. Desde que se entenda que a europa só pode ser construída com base na solidificação do conceito de nação e sendo o seu principal esteio a cooperação, parece-me que as motivações nacionalistas não prejudicam em nada a europa.

Os exemplos que apresentas da criação dos EUA e da unificação da Alemanha não me parecem correctos. A unificação da Alemanha por Bismarck é contrária, na época, aos interesses dos principais estados da região, em particular da França. Dessa forma, o argumento das pressões exteriores para o aprofundamento da união europeia parece-me pouco forte!

Quanto ao peso da UE no contexto da economia mundial e à sua diminuição progressiva: parece-me normal. Afinal, essa quota de mercado que a UE vai perder será em consequência da ascensão de um conjunto de outros países (em que a China e a Índia são os expoentes máximos).

Finalmente, o sucesso futuro da União Europeia e dos países que desta organização fazem parte, reside, a meu ver, na capacidade de surgirem novas lideranças mais fortes e capazes. Reside na capacidade de continuar a criar quadros competentes, audazes e com visão de futuro. Reside na capacidade de adaptação a um mundo em constante mudança. Em tudo isto, ficará por demonstrar, a necessidade de um novo Tratado como alavanca.

Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

Filipe Farinha disse...

Filipe Daniel:
Concordo contigo quando dizes que as opiniões nacionalistas são importantes para a construção europeia. No entanto,o que quis dizer no texto foi que, caso o processo de integração europeia não se efectue juntamente com as sociedades, este será o principal tipo de argumentos que se irá levantar contra o processo (Por exemplo,como os houve na adesão ao Euro). Relativamente aos exemplos, foquei-me no interesse de todos os intervenientes internos como condição para a mudança, não nos interesses externos (que, obviamente, não defendiam esse caminho).

Anónimo disse...

A JSD devia ter vergonha, como juventude progressista que deveria ser, em apoiar um tratado que trás mais precariedade ao trabalho juvenil, aos salários e à perda tão acentudada da soberania nacional. Vergonha.

Daniel Geraldes disse...

Eu acho que este impasse só nos prejudica a todos, e este é o modelo mais bem sucedido de todas as uniões que já foram feitas, por isso não vejo nenhuma razão para não este tratado não ter avançado, a Europa já nos deu, ofereceu, colocou á nossa disposição tanto que eu não concebo á não ratificação deste tratado venha ele em que moldes vier, e sinceramente não acho que este tratado seja tão prejudicial para qualquer dos estados membros do que a actual politica que vem de Bruxelas.

Em relação ao comentario do Rui, acho exactamente por sermos uma juventude progressita, é que queremos e aceitamos o tratado, e a Europa dá-nos oportunidades de lutarmos por melhores empregos, num verdadeiro mercado concorrencial, e a soberania no meu entender já está mais que garantida, precisamos é de garantir a soberania europeia contra a mão de obra barata da china, os estados de alma dos grandes produtores de energia e termos uma voz activa no mundo, não esta vergonha de uma união e varias vozes.

Filipe de Arede Nunes disse...

Dani,

Confesso que não entendo o que este tratado trás de positivo para a UE.

O que sei, é que vai acentuar as desigualdades entre os Estados e conduzir a uma UE como um modelo mais próximo do federalismo.

Relativamente ao que a UE nos deu ou não, espero que esse argumento não sirva para dizer que nos vendemos por dinheiro, pelo que agora temos de aceitar tudo! Se é verdade que recebemos muitos fundos, não é menos verdade que não existindo almoços grátis, os principais financiadores da UE já obtiveram o seu retorno.

Filipe,

Naturalmente que fazer a construção europeia nas costas dos cidadãos será sempre o mais forte dos argumentos contra a mesma. Os povos já estão fartos de directórios a governar os seus destinos e ao favor dos seus interesses!

Quanto ao comentário do Rui: como pode ver, a JSD é plural nos entendimentos que tem nas matérias que aqui são abordadas.

Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

Pedro Pólvora disse...

Quero começar por deixar os meus sinceros parabéns ao Filipe pelo texto apresentado.

Relativamente à não ratificação por parte da Irlanda, subscrevo parte das tuas palavras, é resultado não só da mediocridade de alguns dirigentes europeus, como da progressiva não envolvência dos cidadãos nos processos de decisão, uma vez que não consigo acreditar na lógica de que as campanhas não foram suficientemente elucidativas.

De facto, atingimos uma Integração Europeia relativamente eficiente face às tentativas que a precederam, no entanto, acredito por outro lado que a sua continuidade reside não na corrente Federal, mas na chamada “pluralist approach”…a prova é o alheamento cívico a que todos assistimos.

Abraço

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