sexta-feira, julho 17, 2009

Vão trabalhar, malandros by Pedro Santos Guerreiro (jornal de negócios)

Trabalhar para o Estado é melhor que trabalhar para os privados? No dia 23 de cada mês, é. É o dia do pagamento. O pior são os outros 29 dias. Emprego há sempre, trabalho não.

Olhar para as médias é ingrato, porque uma generalização favorece os muito maus e é injusto para os melhores. Isso é válido para estas frases e para o estudo do Banco de Portugal (Maria Manuel Campos e Manuel Coutinho Pereira), que actualiza a diferença entre salários no Estado e fora dele: os trabalhadores do sector público auferem um salário médio "claramente acima" dos seus congéneres do sector privado. Quão acima? Era 50% superior em 1996, passou a ser 75% em 2005. A assimetria, diz o estudo, é ainda maior quando se calcula o salário por hora (trabalha-se menos horas no Estado).

Ganha-se mais dinheiro, trabalha-se menos horas e o risco de despedimento é zero. Humm... Que paraíso é este?

Não é paraíso algum, é um inferno para o País que o alberga, que paga estes custos para uma produção baixa e serviços mal prestados. Em média... A culpa é, portanto, dos funcionários públicos, certo? Errado. Quem tem de trabalhar mais são os seus chefes, os dirigentes.

Não é preciso ser um perigoso neoliberal para concluir que o Estado tem gente a mais ou trabalho a menos; custos altos e produtividade baixa. O pecado original vem de trás, quando desenfreadamente se subcontratou (na era Cavaco) e contratou (época de Guterres). Que fazer?

Hipótese 1: despedir. Impossível. Todas as circunvalações inventadas para dar a volta à questão (excedentários, supranumerários, mobilidade) falharam. Hipótese 2: fazer uma "desvalorização competitiva dos salários". É o que foi feito na última década, com aumentos salariais abaixo da inflação e, desde 2005, com o congelamento das progressões, uma medida cega para suspender outra medida cega (as progressões automáticas eram uma imbecilidade que dissuadia o mérito e a criatividade: o melhor era estar quieto e nunca pôr em causa o chefe). O problema foi que esse comportamento da última década foi mau para os dois lados: quem recebe compara os aumentos com a inflação; quem paga devia comparar com a produtividade. Daí que o aumento de 2,9% deste ano seja uma aberração eleitoralista.

Se as pessoas trabalham pouco ou mal, a culpa não é sua, mas de quem as contratou e as gere. E quem gere na administração pública ainda é (em média...) quem o partido gosta, quem a cunha prefere e quem a antiguidade protege.

Era tudo isto que esta reforma da Administração Pública queria dinamitar. Mas o secretário de Estado que desenhou uma reforma perfeita no papel, João Figueiredo, foi-se embora antes da obra. O arquitecto não quis ser engenheiro e o resultado é pífio. As progressões tornaram-se mais lentas (em média, passou de três para dez anos), as avaliações continuam omissas. Há ainda dirigentes do Estado que não respeitam as ordens do ministro, não definem objectivos, não avaliam os funcionários (contra o interesse destes!), e passam incólumes a essa "desobediência civil". No final, esses funcionários estão a ser avaliados... pelo "curriculum"! É a negação da reforma.

A Administração Pública tem muitos chefes relapsos e bloqueadores, que derrubam com a inércia o que põe em causa o seu posto. Sobram os funcionários e 1.500 proscritos no quadro de mobilidade, um fracasso onde na prática estão de castigo os que não aceitam ser transferidos de serviço.

A reforma da Administração Pública era a mãe de todas as reformas. No fim da legislatura, a mãe falhou. Venceram os filhos da mãe.

5 comentários:

Anónimo disse...

É bem verdade. Já trabalhei para o Estado (através de uma empresa de trabalho temporário), onde verifiquei que às 16h55 já havia pessoas junto do relógio de ponto espera que fossem as 17h. O dia era passado para cima e para baixo, entre gabinetes e bar. Havia ainda quem fosse trabalhar mais cedo (= hora extra), colocava as coisas na secretária e ia tomar o pequeno almoço. Há um grande descontrolo na gestão do pessoal, isso tem de ser alterado, doa a quem doer. por outro lado reduzem-se direitos aos funcionários publicos, em vez de fazer valer mais direitos a quem trabalha no privado.

Anónimo disse...

Compreendo a generalização o que se pretende com tal... arranjar um culpado.
Pois, tenho dificuldades em compreender se nestes trabalhadores do Estado, estaremos a falar também do chamado sector empresarial do Estado? Ou estamos apenas a falar de serviços como os fornecidos por médicos, professores, polícias, militares, juízes, funcionários públicos...
Mais, e quanto aos salários reais do privado? Quanto vai em ajudas de custo? De transporte? Por baixo da mesa? Sem recibo? Não declarados?

A generalização é perigosa. Se calhar queremos baixar o salário de uma auxiliar de acção educativa ou auxiliar de enfermagem que ronda os 500 euros brutos...
Ou, por outro lado, quantas empresas são bem geridas em Portugal?
Quantas empresas privadas, não apresentam um acréscimo exponencial de despesas em Novembro em Dezembro no sentido de absorver lucros?
Quantas e quantas empresas não vivem sufocando os seus funcionários, para os gestores terem regalias completamente despropositadas. Quantas centenas de empresas são completamente descapitalizadsa pelso sócios e quando chega uma recessão abrem falência enviam pra o desemprego milhares? será que temso um sector privado que funciona bem ou temso um sector privado que vive à conta, muitos deles do próprio Estado. Engraçado, será que em vez, como a comentadora anterior referiu e muito bem, ao invés de aumentar as regalias do trabalhadores do sector privado vamos baixar a do público... que no fundo é isso que se pretende com este tipo de estudo. Muito bem, o artigo causa refere dois "remédios" que se tentaram: nos últimos 10 anos os trabalhadores do Estado perderam 29% do seu poder de compra, sendo para mais "congelados" na sua carreira. Houve algum estudo para isso?
Mais, e por último posso acrescentar, que na minha profissão, eu com dez anos de ofício, ganho três vezes mais que os meus colegas colocados em autarquias locais... sou engenheiro do sector privado, mesmo privado, nada de golden Share ou similares.

Anónimo disse...

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1311427

Anónimo disse...

Funcionarios publicos = a chulos

Sigam o exemplo de gente séria e que fala verdade : Dias Loureiro, Oliveira e Costa, mário Lino, José Sócrates, Paulo Pedroso, Isaltino Morais, Valentim Loureiro e Alberto João Jardim.

Anónimo disse...

Mais um malandro do PSD Arlindo Carvalho Ministro da Saude de Cavaco Silva a roubar milhões.

blogaqui?