Siderurgia Nacional em Paio Pires: um problema ambiental.
Hoje trazemos um texto, publicado no Jornal do Seixal no passado dia 20.10.2007, da lider da Assembleia de Freguesia de Amora, Dra. Catarina Tavares, sobre um tema de particular interesse e importância, sobre o qual voltaremos em breve a nos pronunciarmos.
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA DO SEIXAL
Exmo. Sr. Presidente,
A instalação da Siderurgia Nacional na Aldeia de Paio Pires, abriu, no anos 50, uma janela de oportunidades para um concelo que tendo vidido sempre na sombra da grande cidade nunca tinha podido crescer e desenvolver-se.
Nessa época a consciência ambiental era diminuta, e as preocupações com a suscentabilidade do ambiente ainda não ocupavam os espiritos. À volta da SN cresceu um concelho que viria a apanhar outras boleias (a ponte sobre o Tejo, os estaleiro da Lisnave) que lhe permitiram crescer em população e aumentar exponencialmente o número de fogos.
Durante décadas, os fumos emanados das chaminés da siderurgia foram (quase) a única preocupação para muitos dos habitantes da região. Contudo, alastraram também as descargas poluentes para Tejo e, cresceram aos montes os depósitos dos resíduos contaminados. Cinquenta anos após a instalação da SN no concelho do Seixal, e alguns anos após a sua morte e ressurreição (leia-se) transformação, temos que arrojar com a sua herança.
De acordo com o relatório de 2001 di EPER (Registo Europeu de Emissores de Poluentes), a Lusosider era a empresa europeia que mais compostos orgânicos descarregava directamente na água (36,7% do total). De resto, as duas empresas sediadas em Paio Pires (Lusosider e SN) são responsáveis pela contaminação do ar com um cocktail de substâncias (cobre, arsénico, cádmio, chumbo e óxidos de azoto). Os montes de residuos (contaminados) entulhados na área da antiga Siderurgia arrastados pelo vento, ou perdendo-se dos camiões em movimento são também responsáveis pelo facto de num relatório de 1993 Paio Pires e arredores excederem entre 2 a 4 vezes os valores limite de particulas em suspensão. Não é pois, de estranhar, que os moradores de Paio Pires se queixem insistentemente do pó que tomou conta das suas casas, dos seus automóveis, das suas ruas. Só os óxidos de azoto (de acordo com o relatório EPER de 2004) eram libertados à razão de 210 toneladas/ano, pelas empresas Siderurgia Nacional e Lusosider.
Não devemos deixar de nos preocupar com os efeitos que a exposição prolongada a um leque alargado de poluentes presentes durante décadas na água, no solo e no ar podem comportar para a saúde pública: doenças respiratórias, doenças cancerígenas, alterações no desenvolvimento das crianças, perturbações do sistema nervoso, entre outras. A estas preocupações antigas somam-se, agora também as noticias periódicas sobre o transporte de sucatas radioactivas... mas ao mesmo tempo e, sem que nenhuma destas preocupações esteja devidamente esclarecida, surgem projectos de urbanizações a implementar nesta zona o que irá incrementar a população potencialmente em risco pois, a verdade é que mais de cinquenta anos de permanência da indústria pesada tiveram um forte impacto ambiental com repercussões negativas para o ecossistema.
Estas questões não podem ser escamoteadas nem descartadas na hora de decidir o futuro dos terrenos da antiga Siderurgia e sua área envolvente. A população merece ter garantias de que não só se vai proceder à descontaminação do solo e da Lagoa da Palmeira como ainda de que vai haver um redução drástica das STP/SPM e da libertação de óxido de azoto na atmosfera.
1 comentário:
Para quando esta vergonha terá solução, eu que sou morador recente em Paio Pires, pensando ir viver para uma aldeia sinónimo de alguma qualidade e dou de caras com um martírio de barulho e de poeiras.
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